Após vencer batalha fora dos campos, garoto sonha brilhar com camisa do Pelotas

Autor(a):

Por Eduardo Costa e Guilherme Pontes

O olhar calmo e a voz tranquila ao descrever o caminho percorrido até hoje escondem o grande guerreiro que há dentro do menino de 17 anos, Axel de Moura da Costa. O garoto de Candiota, que veste camisa 10 do time sub-17 do Pelotas, já driblou muitas dificuldades durante a vida e, hoje, segue trilhando seu caminho pelos campos de futebol, tendo a consciência de que não quer ser apenas mais um.

Axel chegou ao Esporte Clube Pelotas no início deste ano para atuar no time juvenil. Seis meses depois já está integrado ao time profissional, onde a partir do segundo semestre será apresentado ao torcedor áureo-cerúleo, na Copa Hélio Dourado.

Aos 17 anos, o jovem jogador define-se como um meia que busca ajudar os seus companheiros e tentar deixar os atacantes de frente para o gol. Axel afirma ter conhecimento que às vezes dar um bom passe para a definição é tão consagrador quanto marcar o gol.

Além do bom futebol, mostra maturidade e convicção nos outros campos de sua vida. Precoce também fora dos gramados, já cursa a faculdade de Educação Física e pretende alinhar a carreira dentro das quatro linhas com a sua formação acadêmica.

“Estou cursando educação física e ainda pretendo fazer fisioterapia. Os estudos são fundamentais e recebo total apoio dos meus pais. Não vou parar de estudar enquanto não estiver formado em Fisioterapia que é o que eu realmente quero.”

A palavra vencedor escrita no começo da matéria para descrever Axel, não vem apenas da criação dos autores deste texto. O ano de 2011 ficará gravado na memória do jovem meio campista para o resto de sua vida, foi neste ano que o atleta passou pelo maior desafio de sua vida. Uma disputa muito mais difícil do que driblar qualquer zagueiro “brucutu”, Axel lutou pela própria vida. A perda de peso e o cansaço físico o fizeram procurar um médico. O jovem corria contra o tempo. “Perdi 7 quilos em 15 dias e começaram a aparecer linfomas em forma de ínguas nas virilhas e pescoço. Tive que parar de jogar futebol.” Um tipo raro de câncer havia sido constatado em Axel.

“As pessoas que eu mais amava estavam juntas comigo quando recebi a noticia. Foi muito triste.”
Felizmente, Axel teve o câncer de linfoma detectado ainda no seu estágio inicial e após quase um ano de tratamento está curado e podendo fazer aquilo que mais gosta: jogar futebol.

“Graças a Deus me recuperei. Sou muito grato ao Pelotas pelo apoio e por acreditar em mim no momento mais difícil da minha vida.”

A vida nos reserva dificuldades, mas também nos apresenta conquistas. Após a batalha contra o câncer, Axel teve sua recompensa. O técnico Beto Almeida acompanhou algumas partidas do time sub-17 e viu no jovem um jogador para integrar o time profissional do clube.

Um dia antes de enfrentar o Novo Hamburgo pelo Gauchão, Beto Almeida convocou os jogadores do sub-17 para fazer um jogo-treino contra o profissional: Axel não precisaria de mais nenhuma oportunidade.

“Perdemos o amistoso, mas acho que o Beto gostou do meu treinamento aquele dia” comenta o garoto.

Axel recebe do Pai, seu João Roberto, os conselhos de quem um dia já foi jogador e hoje quer ver seu filho brilhar nos gramado. Além disso, tem na família a grande motivação para seguir lutando. “Meus Pais passaram por muitas dificuldades e mesmo assim conseguiram me dar estrutura e apoio pra que eu pudesse ter o melhor. Sou muito grato a eles e faço tudo para deixá-los orgulhosos.”

Perguntas

1) A distância da família é um obstáculo a ser ultrapassado?
Meus familiares moram em Candiota. Eu tento ir para casa a cada duas semanas. Tento fazer desta distância dos meus familiares a minha motivação, pois meu maior foco é dar orgulho aos pais, pessoas que sempre me deram apoio e estrutura. Meu pai foi jogador profissional e teu nele uma grande referência.

2) Qual foi a maior dificuldade que você já enfrentou até hoje?
A Maior dificuldade certamente foi em 2011. Eu estava treinando em Candiota e perdi 7 quilos em 15 dias. Começaram a aparecer linfomas em forma de íngua nas virilhas e pescoço. Tive que parar de jogar futebol e fui a um médico. Quase entrei em depressão. Na mesma época acabei o namoro. Depois dos exames, ficou constatado o linfoma. As pessoas que eu mais amava estavam juntas quando recebi a noticia. Fui muito triste. Graças a Deus me recuperei. Sou muito grato ao Pelotas pelo apoio e por acreditar em mim no momento mais difícil da minha vida.

3) Qual a importância da família e da namorada durante os momentos difíceis que tu passaste?

A família tem um papel importante, é a minha fortaleza. Além dos meus pais estarem sempre querendo meu bem e sempre me aconselhando, tenho meus dois irmãos que são o resto da minha vida. Meu irmão mais velho é um cara que é um paizão pra mim. É um cara que eu faria tudo por ele e ele sabe o quanto eu o admiro e quanto o amo. E ainda tem o meu irmão mais novo que eu tenho orgulho em dizer que sirvo de exemplo para ele. Ele me liga todos os dias perguntando se eu fiz gol no treino, se eu treinei bem, e eu me emociono muito só em ouvir a voz de cada um deles pelo telefone.

Já a Victória, além de amar muito ela como namorada, é a minha melhor amiga. Uma das melhores pessoas que existe nesse mundo. Passei dificuldades ao lado dela e ela nunca largou minha mão. Esteve sempre ao meu lado firme e forte. Além de ser sensível, tem um coração muito grande e sabe das dificuldades que terei ao decorrer da vida. Tenho orgulho de viver junto a eles e amo muito todos. Sei que estarão até o fim comigo.

4) Como tu achas que será pra ti, um garoto de 17 anos, atuar no meio dos profissionais?

Quero mostrar meu futebol. Não quero subir pra ser mais um jogador. Quero fazer a diferença. Me vejo treinando muito bem em busca do meu espaço.

5) Como recebeu a notícia que integraria o grupo principal do Pelotas?
Em maio, o Felipe Muller ligou para o meu pai e informou que o Beto gostaria de me utilizar no time profissional. Ficamos muito felizes com a notícia.

6) Como seria sua estréia perfeita pelo time profissional?
Com o estádio lotado e fazendo uma bela participação na partida, ou seja, estreando com o pé direito. Uma estréia mostrando personalidade, sem medo de errar.

7) Tem alguma situação inusitada ou engraçada vivida no futebol?
Quando joguei no sub-15 do Avenida de agudo, ficamos concentrados na preparação para a Copa Adidas. Numa determinada noite, ouvimos muitos barulhos na concentração. E foi justamente, na noite que o senhor que cuidava da gente não tava no local. Todo mundo ficou nervoso e com medo. Tudo isso, porque existia uma história que na sede, onde estávamos concentrados, já tinha acontecido um velório. Nós achamos que o morto estava voltando.

Axel de Moura da Costa, 17 anos

Clubes: Flamengo de Alegrete, Avenida de Agudo, Guarany de Bagé, São José-POA, Grêmio, Novo Horizonte de Santa Maria, Grêmio Esportivo Candiota (aos 16 anos jogou pelo sub-20) e Pelotas.

Bate-bola

Sonho: vestir a camisa da seleção brasileira
Inspiração: Família
Time: Pelotas
Família: a base de tudo
Amigos: os verdadeiros ficam pra sempre
Futuro: só o cara de cima sabe
Medo: perder uma pessoa da família
Paixão: jogar futebol, namorada, família
Saudade: Tio Dirceu
Defina o Axel em uma palavra: determinado
Uma frase: “Lutar sempre, vencer as vezes, mas desistir jamais.”