Cirilo, o rei dos acessos

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Cirilo marcando mais um de seus gols de cabeça (ou seria de orelha?)

Quer subir? Chama o Cirilo. Foi assim no Farroupilha, no Pelotas e agora no Brasil. Aos 33 anos, ele é o rei de acessos da cidade, porém segue com a mesma humildade e simplicidade de quando começou na base Xavante.

Com exceção de seu pai, identificado com o Farroupilha, Cirilo e toda sua família torcem para o Brasil. Estudante do Colégio Estadual Dom João Braga, próximo ao Bento Freitas, ele conta que chegava a “matar” aula para assistir aos jogos do Brasil. Por isso, aos 12 anos, já atuava nas categorias de base do rubro-negro com Alcione Dornelles. E de zagueiro, claro. “Alguns variam de posição até se definir, mas eu sempre fui zagueiro, desde o início”, afirma.

Passando por todas os níveis da categoria de base, o “orelhudo” recebeu sua primeira oportunidade na equipe profissional no ano 2000. Hélio Vieira comandava um Xavante que buscava voltar para a primeira divisão do Gauchão, mas também disputava o Campeonato Brasileiro (Copa João Havelange – Módulo Amarelo). Naquele confuso calendário, que marcava jogos aos sábados e domingos, em dias seguidos, Hélio era obrigado a usar dois times. “Eu era o sétimo zagueiro do elenco, sabia que não ia jogar, mas quando a oportunidade surgiu, dei meu máximo”, disse o defensor, falando de sua estreia com a camisa rubro-negra, diante do Londrina.

Do dia do debut até o retorno em 2012, passaram-se 12 anos, muitos clubes e três acessos. “Eu pensava que nunca mais ia voltar, mas quando o Rogério [Zimmermann] me ligou, nem perguntei o salário, acertei na hora”. Nesse momento o coração falou mais alto, em todos os sentidos. Além de jogar no seu time, Cirilo poderia ficar perto de sua família. A esposa, que conheceu antes mesmo de estrear como profissional, e seus três filhos, moram em Pelotas, e só se mudaram quando ele atuou pelo Glória, mas não deu certo a vida em Vacaria. “O principal problema é a adaptação dos guris na escola”, afirma.

Eleito melhor zagueiro da Divisão de Acesso, ao lado de Fernando Cardozo, ficou duas noites sem dormir após errar o pênalti na decisão do primeiro turno, diante do São Paulo. Entretanto afirma que tem treinado e, se for preciso, bate de novo. Confiante, ele também chama a responsabilidade nos microfones. Um exemplo foi após a derrota para o Avenida, fora de casa, em partida válida pelas quartas de final do segundo turno, quando disse que “Lá [Baixada] o campo vai inclinar”. O campo realmente inclinou e o Brasil patrolou a equipe de Santa Cruz do Sul, com o placar de 5 a 1.

Farroupilha 2004

Renegado no Brasil, acertou com o Farroupilha. Cirilo foi levado pelo experiente técnico Edson Pontes, o Ceará, junto com outros jovens que também haviam sido dispensados do rubro-negro, como Kiko, Gil, Miro e Michel Gomes.

Ao lado de Dido e Roger Bauer (depois Renato Martins), encaixou-se bem no esquema 3-5-2 de Bebeto Rosa (Ceará havia pedido demissão) e foi titular do início ao fim da campanha que culminou com o acesso do tricolor do Fragata.

Pelotas 2009

Cirilo já havia passado por Santa Maria, onde conseguira um acesso com o Inter, inclusive vencendo o galáctico Pelotas da AGS, e pelo Novo Hamburgo. Apesar disso, em Pelotas, sua cidade natal, ele seguia com dificuldades de aceitação. Dirigentes preferiam gastar com zagueiros vindo de fora a apostar nos locais – não muito diferente do que ainda é hoje. Entretanto, naquele ano, no E.C Pelotas foi o contrário. A equipe já havia vencido a Copa Lupi Martins, em 2008, com Rudi e Rafael Lopes na defesa – dois caras da zona, e após Cirilo ter tido um bom aproveitamento na primeira divisão pelo Sapucaiense, foi contratado pelo Lobão para a Segundona daquele ano. “Havia uma cobrança maior da torcida do Pelotas devido ao gol que eu fiz neles com o Inter-SM em 2007, no jogo final do acesso”, comenta. Mas mesmo com a pressão da torcida, adivinhem o que aconteceu? Claro, mais um acesso, inclusive com gols de cabeça importantes.

Barreira

Conhecido por ser um zagueiro de pouca técnica, porém de muita eficiência, Cirilo briga agora pela continuidade. Tanto no Farrapo, quanto no Lobo e no Colorado Santa-mariense, o zagueiro não seguiu no elenco quando os clubes foram disputar a primeira divisão.

“O Pelotas até teve interesse em renovar comigo para o Gauchão 2010, mas eu recebi uma proposta melhor do Novo Hamburgo e aceitei”, confessa.  No entanto, o momento que lhe causou maior tristeza na carreira foi no final do ano de 2004, quando o Farroupilha formava seu time para o Gauchão 2005, que disputaria após 24 anos, e a nova comissão técnica não quis contar com seus serviços. “Eu consegui o acesso na Segundona e depois disputei a Copinha, mas no final do ano o novo treinador [Luis Eduardo] alegou que não me conhecia”, disse Cirilo, que depois de insistir, foi convidado a fazer um teste com o novo elenco, porém, com orgulho, rejeitou. Nesse momento até pensou em encerrar a carreira, mas com o apoio de seu pai, seguiu rumo ao Grêmio Bagé.

Agora, no Xavante, ele tem contrato até o final de 2013 e já encaminha a renovação para disputar o Gauchão 2014.  E sobre encerrar a carreira: “Não tenho ideia, não penso em parar, quero seguir no Brasil até onde der”.