As peripécias de Novelletto e a FGF

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Por Eduardo Costa e Pedro Petrucci

Sérgio Malandro e suas pegadinhas, e Ivo Holanda no extinto Topa Tudo por Dinheiro sentem inveja das peripécias da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), comandada por Francisco Novelletto.

Calendário com maratona de jogos, competições defasadas, fórmulas estapafúrdias, locais de partidas definidos no dia, erros em regulamentos, punições jogadas debaixo do tapete. Enfim, a lista é interminável.

Em tempos de reflexão para o nosso futebol após os 7 a 1 sofridos para a Alemanha na Copa do Mundo, percebemos que a bagunça dentro de campo apresentada pela nossa seleção começa fora dele. É de baixo para cima. Dos pequenos campeonatos e federações, como a FGF, até a nossa Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Presidente da FGF, Francisco Novelletto (Foto: Gazeta Press)
Presidente da FGF, Francisco Novelletto (Foto: Gazeta Press)

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SEQUÊNCIA DE JOGOS

Em nenhum campeonato do mundo, nem em torneio varzeano ou de botão e vídeo game duas equipes jogaram contra tantas vezes em um curto período.

Entre os dias 18 de agosto e 12 de novembro de 2013 (86 dias), Brasil e Pelotas se enfrentaram oito vezes pela Copa Sul Fronteira. As magníficas fórmulas da FGF, ainda proporcionavam a possibilidade de mais dois duelos pela Copa Willy Sanvitto e um pela Super Copa, algo que não aconteceu.

Outro exemplo foi Brasil e São Paulo que se encontraram mais de dez vezes entre a Divisão de Acesso e as competições do segundo semestre em 2013.

ERROS EM REGULAMENTOS

1)   “Até uma criança de cinco anos sabe que tem gol qualificado em uma final”.  Frase de Francisco Novelleto, presidente da FGF, em entrevista após a polêmica final da Copa Sul Fronteira 2013, quando o Pelotas derrotou o Brasil no critério do gol qualificado, mesmo que as formas de desempate estivessem ausentes no regulamento da competição.

2)   O Brasil conquistou o seu retorno à elite do futebol gaúcho de forma legítima e antecipada, por uma brecha proporcionada, através de erro na formulação do regulamento da Divisão de Acesso 2013. Com a vitória sobre o Santo Ângelo, por 2 a 0, na semifinal do segundo turno da Série A2, o Xavante avançou às finais e confirmou a melhor campanha no aproveitamento, com 65%.

Segundo Novelletto, faltou a palavra “subsequente” no artigo 15, caso uma mesma equipe fosse duas vezes vice, e tivesse a melhor campanha no percentual técnico. “Faltou um detalhe no regulamento. Sendo o melhor de todas as equipes jogaria com a subsequente. Se ele (Brasil) tiver – e teve – o melhor índice dos demais está garantido” tentou explicar na época.

3)   Neste ano foi a vez da Segunda Divisão (Terceirona). A polêmica pairou sobre o artigo 57 da competição. A dúvida estava na comulatividade entre jogadores acima dos 23 anos com os oriundos de clubes da Série A. “Houve um erro de transcrição da gravação da Assembleia realizada com os clubes da Terceira Divisão para o regulamento. A gravação é clara e tira todas as dúvidas”, garantiu na oportunidade o presidente da FGF.

Todos esses erros ou omissões são respaldados pelo artigo 89 existente em todos os regulamentos da FGF: “Caberá exclusivamente ao Presidente da FGF, “ad-referendum” da Diretoria, resolver os casos omissos, bem como as dúvidas surgidas na interpretação deste Regulamento.”

MARATONA DE JOGOS

Em quase 90 dias, oito clássicos Bra-Pel (Foto: Carlos Insaurriaga)
Em quase 90 dias, oito clássicos Bra-Pel (Foto: Carlos Insaurriaga)

Bom Senso Futebol Clube pretende reorganizar o calendário do futebol brasileiro. O movimento poderia incluir jogadores de Brasil e Pelotas em 2013. Cada uma das equipes entrou em campo seis vezes em um período de 12 dias, ou seja, era jogo num dia, descanso no outro, jogo de novo.

A dupla Bra-Pel disputava a Copa Willy Sanvitto e a Copa Sul Fronteira e com isso, uma verdadeira maratona de jogos esperava Xavantes e Aúreo-cerúleos. Se acrescentar o Farroupilha à lista, entre os dias 29 de setembro (domingo) e 6 de outubro (domingo), em oito dias a cidade Pelotas esteve envolvida em jogos todos os dias.

29/09 – DOMINGO – Copa Willy Sanvitto – Passo Fundo 1×2 Pelotas
30/09 – SEGUNDA – Copa Willy Sanvitto – Brasil 0x0 Internacional
01/10 – TERÇA – Copa Willy Sanvitto – Pelotas 1×0 Passo Fundo
02/10 – QUARTA – Copa Sul Fronteira – Brasil 1×0 Bagé
03/10 – QUINTA – Copa Sul Fronteira – São Paulo 1×0 Pelotas
04/10 – SEXTA – Copa Willy Sanvitto – Internacional 0x0 Brasil
05/10 – SÁBADO – Copa Sul Fronteira – Farroupilha 1×0 São Paulo
06/10 – DOMINGO – Copa Sul Fronteira – Pelotas 1×1 Brasil

Na época, em nota publicada no site oficial da FGF, a entidade afirmou que “em virtude da participação dos clubes em competições simultâneas e da exiguidade de datas para o encerramento das referidas competições, muitos jogos foram agendados respeitando tão somente os prazos legais de intervalo entre as partidas. Ainda, disse que a participação dos clubes nas competições de forma simultânea, deu-se por livre escolha dos clubes que confirmaram a participação de forma expressa”.

LOCAL DE PARTIDA MARCADO NO DIA

Brasil e São Paulo se enfrentam mais de dez vezes em 2013 (Foto: Jô Folha)
Brasil e São Paulo se enfrentam no Arthur Lawson (Foto: Jô Folha)

A FGF consegue superar qualquer situação, até mesmo a definição do local de uma partida no dia da disputa.

São Paulo e Brasil se enfrentariam pela semifinal da Copa Sul Fronteira na noite do dia 24 de outubro de 2013 no Aldo Dapuzzo. Porém na manhã do dia do jogo o estádio não foi liberado pelos bombeiros e somente à tarde ficou definido que a partida seria no Arthur Lawson.

Ou seja, a definição do local do confronto foi anunciada algumas horas antes da bola rolar. Inacreditável, se não fosse obra da Federação Gaúcha.

ESTÁDIOS SEM ALVARÁ

Brasil e Pelotas tiveram dificuldades para liberação dos estádios junto aos órgãos de segurança para a disputa da Série D do Campeonato Brasileiro. Novas exigências em um curto período aliados aos erros da FGF demoraram na liberação da Boca do Lobo e Bento Freitas.

“A decisão é da CBF e a incompetência é da Federação”, disse o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Novelleto, em entrevista ao jornal DIÁRIO DA MANHÃ.

“Viajei para a Copa do Mundo e deixei o meu secretário para cuidar dessa questão dos laudos. Ele ficou empurrando com a barriga”, admitiu mais um erro Novelleto.

PUNIÇÕES NÃO SÃO CUMPRIDAS

Auxiliar Jorge Eduardo Bernardi agredido (Foto: Alisson Assumpção-DM)
Auxiliar Jorge Eduardo Bernardi agredido (Foto: Alisson Assumpção-DM)

A impunidade não está somente no sistema judiciário do nosso país. No futebol gaúcho, até existe a punição, porém, às vezes, ela não é cumprida. No clássico Bra-Pel 354, no dia 26 de setembro de 2013, no estádio Bento Freitas, o Pelotas venceu por 3 a 0 e saiu campeão do primeiro turno da Copa Sul Fronteira.

O jogo, entretanto, foi encerrado aos 33 minutos da segunda etapa devido a falta de segurança. Um torcedor do Brasil invadiu o campo e agrediu o assistente número 2, Jorge Eduardo Bernardi, desferindo-lhe um soco que atingiu sua testa.

Em um primeiro julgamento, no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) da FGF, o Brasil recebeu apenas uma multa de R$ 10.500. Porém após um recurso do Tribunal, o Xavante perdeu dois mandos de campos. Então a punição seria cumprida no Gauchão. Mas não foi. Ficou para o segundo semestre deste ano.

O PERDÃO DAS PUNIÇÕES

O perdão, um dos ensinamentos de Jesus aos seus discípulos, é aplicado por Novelletto a seus seguidores (clubes). “e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”. Os perdoados da vez foram Pelotas, São Paulo e Brasil.

Coincidência, ou não, o adversário rubro-negro na primeira fase da Copa Fernandão foi o Leão do Parque, clube que tinha uma punição de três jogos por incidentes em partida contra o Riopardense ainda em abril do ano passado.

De maneira inusitada, a FGF achou uma solução. Em Rio Grande o Brasil foi o mandante e em Pelotas foi o São Paulo. Assim, com uma manobra, houve a inversão dos mandos e mesmo com as punições os clubes puderam jogar em seus estádios. Em tese o Brasil cumpriu um mando de campo, ou seja, faltaria o segundo que seria respeitado na fase seguinte da competição. No entanto, o sorteio definiu clássico Bra-Pel na segunda fase da competição.

Assim, a FGF perdoou essa punição a ser cumprida e deixou o Xavante respeitar em outro momento, ou até nunca mais. “Eles vão pagar uma multa, cesta básica, algo do tipo”, disse Novelletto em entrevista.

O mesmo caso aconteceu com Pelotas e São Paulo. O Lobão foi condenado a uma pena de multa no valor de R$2.000,00 e a perda do mando de campo de uma partida oficial por foguetes e rojões lançados no gramado do estádio Bento Freitas antes do clássico Bra-Pel que decidiu a Copa Sul-Fronteira 2013. Guarani-VA e Brasil já visitaram a Boca do Lobo na Copa Fernandão e nenhuma punição foi cumprida, o assunto foi esquecido.

Em relação aos rio-grandinos, mesmo sem ter cumprido todos os jogos de punição, a FGF liberou a realização do jogo contra o Santa Cruz no último final de semana no estádio Aldo Dapuzzo. Então, se Jesus perdoa, Novelletto e a FGF também.

FGF E O SALDO QUALIFICADO DENTRO DE CASA

O gol qualificado é aquele marcado em casa na Copa Fernandão. Você não leu ou entendeu errado. Sim, gol qualificado dentro de casa.

Com a inversão dos mandos de campo no confronto entre Brasil e São Paulo isso ficou definido. O gol como visitante conta como critério de desempate e os mandos foram “invertidos”, na prática tivemos um “gol qualificado em casa”.

PERDEDORES TAMBÉM SÃO VENCEDORES PARA A FGF

O ápice das peripécias apresentadas pela FGF está na Copa Fernandão. Quem disse que em torneios de mata-mata algum eliminado não pode classificar? Novelletto e a FGF contrariam o óbvio e a lógica.

Pelotas foi derrotado no confronto de mata-mata, mas classificou (Foto: Alissom Assumpção/DM)
Pelotas derrotado no confronto, mas classificou (Foto: Alissom Assumpção/DM)

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A Copa Fernandão reuniu 22 clubes (que na verdade se tornou 21, pois o Guarani de Bagé desistiu e o Marau classificou sem jogar) 11 confrontos no sistema mata-mata. 11 classificados. Porém, para fechar um número par, na primeira fase mais uma equipe pelo melhor índice técnico avançou, no caso foi o Pelotas.

Ou seja, talvez, pela primeira vez na história do esporte bretão, uma equipe eliminada no sistema mata-mata classifica-se para a segunda fase. Não bastasse esse absurdo, na segunda fase foram perdedores que avançaram.

ENFIM… 

Parecem brincadeiras ou pegadinhas como as do Sérgio Malandro e do Ivo Holanda, mas não. São histórias reais e que continuam acontecendo, pois os clubes são reféns da entidade, já que na primeira dificuldade financeira correm desesperadamente para pedir ajuda à Federação Gaúcha.

Em tempos de reflexão para o nosso futebol, essas pequenas coisas refletem dentro de campo. Erros e absurdos como esses realizados pela FGF, que superam qualquer definição do óbvio e da lógica, certamente não são exclusivos da entidade que comanda o futebol do Rio Grande do Sul.

Então, o que resta é o futebol brasileiro se reorganizar para acabar com as peripécias de quem comanda.