OPINIÃO: O inimigo imaginário de Zimmermann

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Rogério Zimmermann retornou ao Brasil em 2012. A situação no clube era difícil: virtualmente eliminado na divisão de acesso ao Campeonato Gaúcho. Com o treinador, o Xavante se reestruturou e conseguiu subir de divisão em 2013. Nos dois anos seguintes, dois títulos do Interior Gaúcho, vaga e vice-campeonato na Série D nacional, ascensão e classificação à fase final da Série C. O Brasil está agora a dois jogos de conseguir uma vaga na
segunda divisão do Brasileirão. Já esteve assim tão perto outras vezes na história recente, mas nem o mais otimista dos torcedores acreditaria que isso voltaria a acontecer tão cedo.

Ao longo desses três anos de glórias, Zimmermann sempre teve o respaldo da diretoria e dos torcedores do clube; e mais: teve total confiança da imprensa pelotense. Na Série C deste ano, foram onze jogos sem perder e o Brasil era o líder isolado da chave. Neste período de vitórias, muitos elogios ao trabalho, mas também críticas pontuais. Principalmente em relação à utilização de alguns jogadores e um ou outro questionamento tático. Natural. Jornalismo é informação, questionamento, críticas e elogios. Se fosse só elogios, seria publicidade. Ainda assim, essas críticas pontuais nunca foram aceitas pelo técnico xavante. Pelo contrário, foram desmerecidas, ironizadas e criticadas sempre que possível.

Depois desses onze jogos sem perder, vieram seis jogos sem vitórias e a classificação à segunda fase da Série C ficou ameaçada. Se Grêmio ou Inter, por exemplo, ficassem seis jogos sem vencer, os trabalhos de Roger Machado e Argel seriam criticados pela imprensa. Mais além, viriam insinuações sobre demissões. Isso nunca aconteceu aqui em Pelotas. Mesmo com a sequência negativa, o trabalho de Zimmermann sempre foi elogiado pelo retrospecto geral. Claro que sem resultados as críticas aumentaram. Algo diferente disso seria estranho.

Diante disso, o treinador usou as entrevistas coletivas para atacar a imprensa que sempre esteve ao lado do Brasil. Além de ir ao Rio de Janeiro tomar chopp, como gostou de dizer Zimmermann, os comunicadores daqui também foram a Tombos, cidade no interior de Minas Gerais com menos de 10 mil habitantes. Mais de mil quilômetros percorridos de avião e cerca de 500km de carro. Não é fácil pra ninguém, mas cobrir o Brasil, assim como cobrir o Pelotas, sempre foi o trabalho de todos daqui.

Todos os dias, pelo menos dois setoristas das rádios locais acompanham as coletivas dos jogadores do Xavante. Diariamente, as rádios e as TV’s exibem programas esportivos falando dos dois principais times da cidade. E os jornais impressos, da mesma maneira, publicam matérias sobre o trio Bra-Far-Pel. As críticas surgem com a intenção de construir. Por vezes, a imprensa é cobrada pelos torcedores para ser mais incisiva nos questionamentos. Criar subterfúgios para responder é prejudicial a todos. A coletiva é o momento que o treinador fala com a torcida. 

Diz-se que as críticas devem ser aceitas. O estranho é que quaisquer críticas ao Brasil sempre foram respondidas com deboches e deturpações. E o que mais intriga: com a classificação confirmada, depois desse susto na reta final, por que não comemorar com a torcida, que de uma maneira geral sempre apoiou o clube? Por que não usar o espaço na imprensa, que sempre esteve junto com o clube na informação, para exaltar os pontos positivos da equipe? Por que usar o espaço pra criticar essa imprensa e criar um inimigo imaginário na cabeça dos torcedores? Quem ganha com isso?