Felipe Garcia, jogador de ponta

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O retorno das boas atuações de Felipe Garcia com a camisa Xavante fomentou, mais uma vez, o debate sobre a posição na qual o atleta rende melhor. É corriqueiro ouvir em entrevistas o questionamento: “Felipe Garcia é meia ou atacante?”. Quando chamou atenção de todos, com a camisa do Pelotas, em 2013, ele era ponta esquerda. O técnico Rogério Zimmermann, assim como o site oficial do Brasil, o definem como meio campista. Setores da torcida e imprensa, defendem com veemência sua utilização como atacante. Mas afinal, quão importante isso é para a análise do desempenho do jogador?

Foto: Carlos Insaurriaga
Felipe Garcia comemora o gol contra o São Paulo (Foto: Carlos Insaurriaga)

“Felipe Garcia joga no meio. Eu só não quero assim: Felipe Garcia jogou bem, Felipe Garcia é atacante. Felipe Garcia jogou mal, Felipe Garcia é meia. Aí não, né”, disse o técnico Rogério Zimmermann, após o empate contra o Glória no Gauchão 2016.

A distribuição dos jogadores do Brasil em campo a partir do segundo semestre de 2014 –momento da chegada de Garcia – passou a ser o 4-2-3-1. O esquema é composto por uma linha de quatro defensores – lateral direito, dois zagueiros e o lateral esquerdo -, dois volantes, uma linha com três meia-atacantes e mais um jogador na frente. Dentro desse esquema, Felipe Garcia ocupa a ponta direita (ou extremo, termo originado em Portugal e que tem se disseminado pelo Brasil) na linha de três meia-atacantes, cumprindo funções defensivas e ofensivas. Entre as de defesa, está o acompanhamento do lateral adversário até a linha de fundo, o que exige um grande preparo físico.

Posição, posicionamento inicial e função

Posição é o que o jogador responde o que ele é. Posicionamento inicial é o local do campo ocupado pelo jogador na maioria das fases do jogo. E função é como se comporta o jogador em determinada fase do jogo (atacando ou defendendo, por exemplo).

Os três posicionamentos de Felipe Garcia com a camisa do Pelotas
Os três posicionamentos de Felipe Garcia com a camisa do Pelotas

Atuando pelo Santo Ângelo na Divisão de Acesso 2013, Felipe Garcia chamou a atenção do Pelotas e foi contratado para a disputa do segundo semestre daquele ano. Em termos de posicionamento, podemos dividir sua passagem pelo Lobo em três partes: centroavante, ponta esquerda e ponta de lança.

Centroavante (imagem 1)

Para o início da Copa Sul-Fronteira, o técnico Paulo Porto optou pelo esquema 4-2-3-1 e para o ataque tinha a disposição os jovens – recém promovidos do sub-17 – Élton e Kayron. Gilmar disputava a Série D pelo Villa Nova-MG e chegaria depois. Porto viu em Felipe Garcia a possibilidade de atuar como centroavante. Foram sete jogos e dois gols.

Ponta esquerda (imagem 2)

A partir da chegada do centroavante Gilmar e logo depois do meia Bruno Coutinho, Paulo Porto passou a utilizar Felipe Garcia aberto pelo lado esquerdo, como ponta. Pela direita, Jefferson Luis contribuía também no momento defensivo, liberando Garcia para contribuir mais na fase ofensiva. Por ali, Felipe viveu seus melhores momentos com a camisa do Pelotas. Destaque para o primeiro gol áureo-cerúleo no Bra-Pel 354, quando ele dispara pela esquerda, dribla Leandro Leite e Cirilo, toca para Gilmar, que assiste para Bruno Coutinho marcar.

Ponta de lança (imagem 3)

Acertado com o Veranópolis para o Gauchão do ano seguinte, em meio a declarações polêmicas, Bruno Coutinho deixou o Pelotas para não agravar sua lesão. Sem Fabiano Gadelha, machucado, Paulo Porto lançou Régis na ponta direita e passou Jefferson para a esquerda. Felipe Garcia foi centralizado, como ponta de lança, atuando atrás de Gilmar.

Da Boca do Lobo para a Baixada

Apesar do golaço na Recopa Gaúcha, contra o Inter B, o Gauchão 2014 de Garcia pelo Pelotas foi de lesões, poucos jogos e rebaixamento. Em Abril, o Xavante apostou no seu potencial, bancou a cirurgia no púbis e o contratou para o semestre de Brasileirão Série D e Copa Fernandão.

Zimmermann perdera Túlio Souza, para o Paraná Clube, e Cleiton, por lesão. Da ponta esquerda Xavante o dono era Alex Amado. Com as chegadas de Zotti e Éder e a fixação de Márcio Hahn como meia central, Felipe Garcia foi para a ponta direita. Questionado na época, disse: “Serei meia, joguei assim na Europa”.
Garcia estreou em amistoso contra o Grêmio sub-20, na preparação para a competição nacional. O comandante rubro-negro jamais admite o posicionamento tático de sua equipe, porém, fez um desabafo após aquele jogo: “Eu tenho dois atacantes [Amado e Nena], coloco mais um, fico com três e vocês me dizem que eu jogo no 4-2-3-1. Aí a torcida me chama de retranqueiro, pois estou só com um na frente”, disse.

As três fases de Felipe Garcia com a camisa Xavante
As três fases de Felipe Garcia com a camisa Xavante

2014/2 e 2015/1

Sempre como ponta direita, Garcia participou de 12 jogos da campanha de acesso do Brasil para a Série C do Campeonato Brasileiro e marcou um gol, contra a Cabofriense. Por vezes ficou na reserva, quando Zotti foi titular. A base foi mantida para o Gauchão 2015 e Felipe Garcia e Alex Amado ganharam a companhia de Diogo Oliveira. Adaptando-se à função do ponta, contribuindo mais nos momentos defensivos e do que nos ofensivos do Xavante nos jogos, teve atuações de altos e baixos. Zimmermann ouviu muitas vezes a torcida pedir por Cleiton, que retornava de lesão.

2015/2

No decorrer do Brasileiro Série C, Felipe Garcia perde a posição para Cleiton. Em agosto, quando Alex Amado se transferiu para o Ceará, imprensa e torcedores suplicaram: “Põe o Felipe na do Amado, Rogério!”. Não foram atendidos. Márcio Jonatan ocupou o posto até a chegada dos novos contratados, Cléverson e Soares.
Em meio a uma sequência sem vitórias na Série C, Zimmermann viu no retorno de Felipe Garcia aos titulares uma maneira de encontrar o equilíbrio tático. Cleverson ainda se adaptava à função que por três anos e meio fora exercida por Alex Amado e tinha dificuldades nos aspectos defensivos.

Organização defensiva do Brasil em 2015 (frame: tranmissão Esporte Interativo)
Organização defensiva do Brasil em 2015, diante do Fortaleza, no 4-2-3-1 (frame: transmissão Esporte Interativo)

2016

Todos estranharam a ausência de Felipe Garcia, até do banco de reservas, na partida contra o Grêmio, pela primeira rodada do Gauchão. Na pré-temporada, Moisés conquistou a posição e participou da derrota por 3 a 1 em Caxias do Sul. Garcia não estava machucado e assistiu ao jogo nos camarotes do estádio Centenário por opção técnica.
Moisés lesionou-se no primeiro tempo da partida contra o Cruzeiro, em Gravataí, e abriu espaço para Felipe, que agarrou a chance. Foi decisivo na partida, ao participar de várias ações ofensivas e dar assistência para Nena igualar o marcador.

Ele evoluiu. Vimos um Felipe Garcia mais incisivo na frente – pisando na área adversária, porém, sem renunciar de suas obrigações defensivas. Na ponta direita, com gols diante Ypiranga e São Paulo, Felipe Garcia é o melhor jogador do Brasil no Campeonato Gaúcho 2016.

Mas, afinal, ele é meia ou atacante? Nenhuma das opções. Ele é de ponta, ponta direita, mas o rótulo pouco importa.