A última vitória do Brasil no Beira-Rio

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Em 1984, o país vivia os últimos momentos da famigerada Ditadura Militar. E, mesmo que a emenda Dante de Oliveira, que previa eleições diretas para Presidente da República não tivesse sido aprovada, o Brasil voltava a viver um clima de certo otimismo, sem euforia, mas a alegria voltava aos poucos.

Assim, enquanto o contexto político agitava-se cada vez mais com a aproximação da eleição indireta para Presidente da República, que seria realizada em meados de janeiro de 1985, pouco mais de um mês antes, mais exatamente no dia 9 de dezembro, o Brasil protagonizou um feito que nunca mais se repetiu, pelo menos no Campeonato Gaúcho de futebol. Neste dia o rubro-negro conseguiu derrotar o Internacional, em pleno estádio Beira-Rio, na penúltima rodada do Hexagonal Final do certame estadual.

O Brasil de 1984 era um timaço, que havia sido formado no ano anterior pelo técnico Luiz Felipe, um ex-zagueiro que agora aventurava-se à beira dos gramados. Depois de ter sido campeão do interior e vice-campeão gaúcho em 1983, o Xavante havia disputado o Brasileirão de 1984, conseguindo passar para a segunda fase da competição nacional.

Para se ter uma ideia do futebol apresentado pelo grupo de jogadores do Brasil no certame nacional, o rubro-negro venceu o Cruzeiro, o Flamengo e o Inter no decorrer do campeonato. E, para comprovar este bom momento, no campeonato estadual o Xavante chegou à fase final e disputou, principalmente com o Novo Hamburgo, o título de melhor time do interior, e chegou a sonhar com a conquista do Gauchão.

O título gaúcho não veio, mas o rubro-negro chegou à penúltima rodada da fase final da competição com chances reais de abocanhar o bicampeonato do interior. Mas para manter acesa as possibilidades de conquista, o Brasil precisava pontuar contra o Inter e, ainda por cima, torcer que o Novo Hamburgo não pontuasse contra o Grêmio, no antigo estádio Santa Rosa.

O quase desmobilizado Grêmio, que jogava para manter as últimas esperanças de título estadual foi inapelavelmente batido em Novo Hamburgo, 3×0, fora o baile. Com este resultado, o Inter que havia servido de base à Seleção Brasileira, medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles, naquele mesmo ano, garantia por antecipação o tetracampeonato gaúcho. E foi no momento de festa da torcida colorada que o Xavante aproveitou, jogou de igual para igual com o time da casa e, aos 44 minutos da etapa final, sacramentou a vitória, com um gol do centroavante Bira.

Mas em 1984, um Brasil e Inter não era apenas um jogo de futebol, era quase uma guerra e para confirmar este clima, depois do gol, o lateral esquerdo do Xavante, Jorge Batata, foi expulso por uma entrada violenta sobre o craque do Inter, o uruguaio Rubén Paz. O castelhano apesar de agredido também foi excluído e, foi assim, com confusão que o juiz Aírton Bernardoni encerrou a partida, que tornou-se histórica porque passados quase 33 anos ainda marca o último triunfo Xavante no Beira-Rio, em campeonatos estaduais.

Quanto ao time do Brasil de 1984, cabe ressaltar que conquistou o segundo campeonato do interior consecutivo após bater o Juventude na última rodada, terminando a competição com o mesmo número de pontos do Grêmio, perdendo apenas nos critérios de desempate. E a magia continuou em 1985, quando esta mesma base de jogadores, comandada por Walmir Louruz, fez um excepcional Brasileirão, conquistando a terceira posição entre os maiores times do país.