O América Mineiro adia por seis anos o acesso do Xavante

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O confronto entre Brasil e América Mineiro tem um histórico muito pequeno em competições nacionais. São apenas dois jogos, mas quanta emoção sentiram tanto os torcedores xavantes quanto os aficionados pelo Coelho das Alterosas nestas duas partidas.
Brasil e América encontraram-se nas quartas de final do Campeonato Brasileiro da Série C de 2009, o primeiro que foi disputado no moldes atuais, com 20 clubes e garantindo o acesso à Segundona Nacional aos times que obtivessem sucesso nesta fase de quartas de final, ou seja, o vencedor da disputa entre xavantes e americanos além de passar à semifinal de um certame nacional, também já estariam entre as 20 equipes que disputariam a Série B de 2010.
O rubro-negro vinha em bom momento nas competições nacionais, pois havia chegado ao Octogonal Final da Série C nas duas últimas vezes em que participou deste campeonato (2006 e 2008), assim a classificação à segunda fase da Série C de 2009, que teve apenas 20 clubes, foi a terceira vez consecutiva que o Xavante colocava-se entre os oito melhores do campeonato em questão.
Mas a temporada de 2009 não tinha começado de forma positiva para o Brasil, pois um acidente de ônibus, acontecido em janeiro daquele ano ceifou a vida de três guerreiros xavantes e deixou vários outros impossibilitados de forma temporária, ou definitiva à prática do futebol. Giovani Guimarães, preparador de goleiros, o zagueiro Régis e o maior ídolo da Era Moderna do Brasil, o uruguaio Cláudio Millar perderam a vida neste acidente. O futuro do Xavante apresentava-se sombrio.
E a perspectiva negativa confirmou-se no Gauchão daquele ano, o Brasil teve que remontar o time às pressas e nem mesmo o comando técnico de Cláudio Duarte, matreiro profissional e conhecedor das minúcias e mistérios do futebol dos Pampas foi suficiente para evitar o rebaixamento do rubro-negro. A Federação Gaúcha de Futebol, que poderia ter blindado o Brasil da ameaça de rebaixamento, pelo menos em 2009, nada fez e ainda obrigou o Xavante a dar conta de uma tabela de 15 jogos, oferecendo intervalos mínimos de recuperação entre uma partida e outra.
Enquanto isso, o América Mineiro não vinha em momento histórico muito positivo, embora seus problemas estivessem concentrados apenas dentro do campo e não representassem uma tragédia parecida com a do rubro-negro de Pelotas. O Coelho, que no início dos anos 2000 havia conquistado uma Copa Sul-Minas e um Campeonato Mineiro, desde 2005 disputava a Série C nacional e no ano de 2008 participou pela primeira vez na sua história do Módulo 2 do Campeonato Mineiro, a Segundona estadual.
Assim, no ano de 2009, os dois clubes estavam em momentos muito importantes de sua história, aonde o triunfo seria a salvação e a derrota poderia significar a bancarrota total.
O Brasil precisou se reinventar após o rebaixamento no Estadual de 2009. Muitos não acreditavam que os dirigentes rubro-negros pudessem fazer uma equipe competitiva. Se dizia que o Xavante lutaria para não cair à recém-iniciada Série D. Mas para a surpresa de todos, o presidente Hélder Lopes banca a vinda do técnico Paulo Porto, experimentado profissional, e acostumado a trabalhar com os minguados orçamentos dos clubes do interior gaúcho. É formado um elenco de jogadores medianos, um grupo “parelho” como se diz popularmente, mas que jogou com o ensanguentado coração da torcida rubro-negra na ponta da chuteira. O símbolo deste grupo foi um sobrevivente do acidente do início do ano, o zagueiro Alex Martins. Na base da raça, o Xavante passou da primeira fase da competição, enfrentando o paulista Marília, os catarinenses Marcílio Dias e Criciúma e o Caxias.
O América Mineiro aliou alguns jogadores experientes, tais como Fábio Bala, Irênio e o ídolo Euller, veterano que apareceu para o futebol no Coelho e que voltou para tentar tirar o clube do coração da beira do abismo e alguns atletas jovens. Este grupo de jogadores foi dirigido pelo candidato a lenda Givanildo de Oliveira, especialista em acessos nacionais e títulos estaduais fora do eixo Rio-São Paulo. Na fase inicial do campeonato, o Coelho foi o vencedor de um grupo que contou com o Gama-DF, Mixto-MT, Guaratinguetá-SP e o Ituiutaba-MG, que atualmente é o Boa Esporte.
Foi assim, que nos dias 9 e 16 de agosto, Brasil e América se encontraram em dois jogos que valiam mais que a vaga na Série B nacional de 2010, valiam a redenção para dois clubes que conheceram o fundo do poço. A primeira partida foi realizada no Bento Freitas, na cidade de Pelotas. Mais de 12 mil torcedores compareceram ao estádio, apesar do domingo chuvoso, típico do inverno gaúcho. O campo enlameado, prejudicou o aspecto técnico do jogo, que resumiu-se a bolas altas lançadas na área, que consagraram os sistemas defensivos. Mas o Xavante teve a oportunidade de vencer o jogo e levar uma vantagem para a decisão, que aconteceria em Belo Horizonte. Na segunda etapa, o zagueiro Cassel isolou uma penalidade máxima chutando alto a bola. Assim, a igualdade sem gols adiou a decisão para a partida de volta.
No jogo de Belo Horizonte, realizado no estádio Independência, quem vencesse o confronto ficava com a vaga. Agora, se o jogo terminasse empatado sem gols, teríamos cobranças de pênaltis, caso tivéssemos empate com gols, o Xavante de Pelotas se classificaria.
A torcida do Coelho era um misto de otimismo e preocupação, a torcida Xavante misturava orgulho e esperança. O otimismo americano atingiu seu auge aos 41 minutos da etapa inicial, quando Luciano abriu o marcador. O acesso ficou mais próximo.
Mas o Brasil emudeceu o Independência aos 8 minutos da etapa final, quando o zagueiro João Rodrigo empatou a peleja e deixou o Brasil na Série B do Brasileirão de 2010 por 16 minutos. A balança pendeu para o lado do Coelho aos 24 minutos do segundo tempo, quando Leandro Ferreira colocou o América na frente outra vez. Dois minutos mais tarde, Bruno Mineiro aproveitou-se de um atordoado Brasil e sacramentou, 3×1 para os mineiros e acesso garantido.
Em 2009, a festa foi mineira e a torcida xavante teve que esperar seis longos anos, quase todos eles sofridos, para atingir sua redenção, que veio em 2015, quando o Brasil segurou o Fortaleza e, finalmente, conseguiu uma vaga na Série B do Campeonato Brasileiro.